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O que é carga mental?
Trabalho, lazer, relacionamentos: as consequências da carga mental
Como dividir a carga mental em casa
Considerações finais

Carga mental: o trabalho doméstico invisível das mulheres

Carga mental

Você provavelmente já ouviu falar sobre desigualdade de gênero, seja no trabalho ou no cuidado diário do lar. Mas será que conhece o termo “carga mental”?

Nos últimos anos, o debate sobre carga mental (ou carga cognitiva) tem atraído cada vez mais o interesse da sociedade. A grande repercussão causada pelatirinha da ilustradora francesa Emma, publicada no famoso jornal britânico The Guardian, demonstra como o assunto entrou de vez na pauta da vida moderna.

Carga mental pode ser definida como toda a rotina de trabalho intelectual que mantém uma casa funcionando, mas permanece invisível – e que, em casais heterossexuais, é geralmente assumido pelas mulheres. Vários estudos e pesquisas confirmam o que a maioria das pessoas já sabia: elas passam muito mais tempo cuidando da educação dos filhos e das atividades domésticas, do que seus parceiros. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as mulheres gastam quase o dobro de tempo que os homens nessas atividades. Mulheres negras, em classes sociais mais baixas, são ainda mais suscetíveis a lidar com essa sobrecarga feminina.

Equilibrar esse cenário pode ser desafiador. Por isso, neste artigo, vamos explorar o conceito de carga mental em detalhes e sugerir maneiras de superar essa situação.


O que é carga mental?

O termo carga mental, de forma resumida, se refere ao conjunto de atividades de planejamento, organização e tomada de decisão necessárias para manter o dia a dia do lar em andamento. Ou seja: não estamos falando, necessariamente, de esforço físico, mas sim do peso gerado pelo gerenciamento das responsabilidades diárias de um ambiente doméstico.

O detalhe é que, na grande maioria dos casos, essas demandas, de caráter intelectual, acontecem nos bastidores e se tornam invisíveis, e seu peso não é compartilhado pelo cônjuge ou por outros membros da família. Assim, por diversos motivos, como o ambiente cultural e a construção social da atualidade, que se apoiam em uma distinção de gênero, elas recaem quase que exclusivamente sobre as mulheres, gerando uma sobrecarga feminina.

Para entender melhor, veja este exemplo prático, que mostra como uma divisão de responsabilidades aparentemente igual não é tão igualitária quanto parece.

Para comemorar seu aniversário, uma criança irá levar um bolo caseiro para celebrar na escolinha. O pai fica responsável pelas compras de supermercado, e a mãe é quem irá preparar e assar o bolo. Parece uma divisão de tarefas justa, certo?

Mas quem escreveu a lista de compras? Quem verificou se todos os ingredientes estavam à mão? Quem perguntou aos professores da escolinha sobre as restrições alimentares dos coleguinhas, e levou isso em consideração ao procurar uma receita adequada?

À primeira vista, parecia que a quantidade de esforço para preparar o bolo era dividida igualmente entre ambos os pais. Mas, ao observar mais de perto, descobrimos que a mulher, na verdade, cuidou de uma série de tarefas invisíveis – e fundamentais – além da preparação do bolo.

As mulheres assumem a maior parte da carga mental

De acordo com um estudo sobre a rotina das mulheres na cidade de São Paulo, elas são as responsáveis por grande parte do “trabalho invisível” em relacionamentos heterossexuais. A pesquisa aponta que a mulher é quem mais se responsabiliza pelo cuidado diário com as crianças (88%), quem mais prepara as refeições (85%), quem mais cuida da limpeza da casa (85%) e quem mais assume os cuidados médicos dos filhos (84%).

Quando os parceiros dizem que estão dispostos a ajudar, estão, quase sempre, se referindo às tarefas físicas, e não ao planejamento prévio. Uma coisa é se oferecer para retirar o lixo; outra é saber se há sacos de lixo na despensa ou quando será o momento de comprar mais. Ou seja: embora se disponham a auxiliar de alguma forma, não estão, necessariamente, dividindo a carga mental.

Assumir a carga mental transforma a mulher na responsável por uma verdadeira rotina de gestão de projetos de toda a família e do lar. Ela planeja, delega tarefas e as acompanha – tudo isso enquanto também tem que cuidar de suas próprias atividades.

Se ela parar de organizar e planejar, as consequências surgem rapidamente: consultas médicas são perdidas, presentes de aniversário deixam de ser comprados, acaba o leite na geladeira e o banheiro fica sem papel higiênico. Frequentemente, a carga mental se torna mais evidente em famílias com crianças, mas ela também pode se manifestar em casais sem filhos, entre profissionais de escritório ou até mesmo em um grupo de amigos.


Trabalho, lazer, relacionamentos: as consequências da carga mental

A pressão gerada pela carga mental tem um impacto amplo, e de longo alcance. Energia é um recurso finito, e a exaustão causada pelo acúmulo de múltiplas responsabilidades pode levar as mulheres a desistir de uma carreira mais ambiciosa ou abrir mão de um emprego com carga horária em tempo integral.

Isso, claro, sem mencionar que a carga mental feminina também pode afetar diretamente seu desempenho no trabalho. Se a maioria das pessoas não consegue dar a mesma atenção a duas atividades ao mesmo tempo, então como a lista interminável de tarefas na mente das mulheres influencia seu trabalho? Simples: a carga mental as impede de se concentrarem em suas obrigações profissionais.

O tempo de lazer também pode ser prejudicado: afinal, quem consegue relaxar sabendo que precisa começar a planejar a próxima festa de aniversário? Além disso, lidar com a carga mental deixa pouco tempo para uma pessoa cuidar de seus relacionamentos afetivos, e pode prejudicar sua qualidade de vida e até resultar em problemas de saúde mental, como o esgotamento – também chamado de “burnout”.

A boa notícia é que há muitas ações que mulheres e homens podem tomar para compartilhar a carga mental da família e evitar que alguém se sobrecarregue. Veja quais são algumas delas.


Como dividir a carga mental em casa

1. Invista em conscientização

Como a carga mental feminina é invisível, você pode torná-la mais palpável aumentando a conscientização sobre ela. Você pode encaminhar alguns artigos sobre o assunto para seu parceiro, por exemplo. Quando estiverem abordando o tópico, tente explicar claramente que deseja compartilhar não apenas as tarefas, mas também a responsabilidade. Se for o caso, cite alguns exemplos práticos do dia a dia da família para ajudar a explicar melhor a questão.

2. Faça uma lista

Uma boa maneira de falar sobre carga mental é fazer um balanço de todas as tarefas visíveis e invisíveis relacionadas à rotina da família e do lar. Faça uma lista e anote tudo. Mas, em vez de apenas listar “fazer um bolo”, divida essa tarefa em todas as pequenas partes que a compõem, como “encontrar uma receita, escrever uma lista de compras e ir ao mercado”, por exemplo. Não se esqueça das atividades que você realiza com menos frequência, como pagar impostos, buscar as roupas na lavagem a seco ou cuidar da jardinagem. Por fim, anote quem geralmente é responsável, atualmente, por cada uma dessas tarefas.

No próximo passo, vocês dividirão essas tarefas de uma forma que pareça justa para ambos. Antes de começar, pensem se há algum item da lista que alguém gosta muito de fazer, e pelo qual gostaria de se responsabilizar. Por exemplo, se seu parceiro gosta de comprar sapatos para as crianças, ele pode se voluntariar para ser o único responsável pelos calçados deles. Isso inclui levar as crianças para comprar sapatos e checar continuamente se novos pares de tênis são necessários. Por outro lado, talvez seu cônjuge esteja cansado de sempre aparar a cerca viva, e você pode pensar em assumir essa tarefa.

Ao dividir todas as tarefas em subtarefas e atribuí-las a uma pessoa responsável, elas saem da lista de tarefas da outra pessoa, diminuindo assim sua carga mental.

Claro, provavelmente haverão tarefas que nenhum de vocês gostaria de assumir. Nesse caso, uma opção é delegar essa responsabilidade a serviços externos (por exemplo, entrega de comida), investir em tecnologia (como um robô de limpeza da casa) ou fazer um sistema de rodízio entre os dois.

Quem sabe, você pode até identificar soluções para remover algumas tarefas permanentemente da sua lista.

3. Compartilhe informações

Muitas vezes, quando você sai de férias ou fica doente, há alguém no trabalho que cobre sua ausência. Talvez essa pessoa não faça todo o seu trabalho, e provavelmente não fará do mesmo jeito que você, mas ela deve ter acesso às informações essenciais para conseguir realizar essas tarefas. É exatamente assim que você deve lidar com as informações na sua família.

Embora cada um tenha suas responsabilidades específicas no lar, as informações mais importantes – como os dados de contato do médico ou o telefone e os nomes dos amigos mais próximos do seu filho – devem ser acessíveis a todos. Outra dica é garantir que tanto o seu contato quanto do seu parceiro estejam atualizados e disponíveis para os professores na escola e no jardim de infância. Com isso, espera-se que nem sempre a mesma pessoa seja chamada para buscar uma criança doente na escola.

4. O bom já está bom

Todos nós temos nosso próprio jeito de realizar as tarefas, e provavelmente você já se pegou pensando “isso não ficou bom” ou “eu teria feito isso melhor”. Além disso, como as mães geralmente passam mais tempo envolvidas com tarefas domésticas e cuidados com as crianças, elas tendem a ser mais experientes nessa área. Mas as mães não nasceram sabendo como escolher o casaco de frio perfeito para uma criança. Elas pesquisaram e aprenderam com a experiência. O que significa que os pais também podem fazer o mesmo.

Ao dividir as responsabilidades e delegar tarefas com seu parceiro, talvez as coisas não saiam perfeitas logo de início. Mas pense: o que de pior pode acontecer? Talvez o cenário não seja assim tão dramático quanto você imagina, e alinhar suas expectativas quanto à qualidade final da tarefa pode ajudar a aliviar sua carga mental. Em caso de dúvida, a pessoa menos experiente do casal sempre pode pedir conselhos ao parceiro, mas depois realizar a tarefa por conta própria.

5. Conte com apoio digital

Com a ajuda da tecnologia, também é possível aliviar a carga mental. Seja por meio de uma lista de compras compartilhada ou de um calendário sincronizado entre os dois, vocês podem organizar melhor a rotina do lar utilizando aplicativos digitais e ferramentas de gerenciamento de tarefas. Anotar as responsabilidades e saber que o sistema irá enviar lembretes já ajuda a reduzir a sobrecarga feminina e a exaustão mental, e torna a organização do trabalho doméstico mais administrável.

6. Revise regularmente

Mudanças significativas geralmente exigem alguns ajustes de vez em quando. É por isso que você deve revisar o processo regularmente para checar o que está funcionando bem e o que precisa de melhorias. Avalie se você está dividindo a carga mental igualmente, ou se é o caso de modificar o fluxo de trabalho combinado. Veja também se você esqueceu alguma tarefa que gostaria de adicionar à lista. Por fim, tenha paciência e não desista: aos poucos, os efeitos positivos da nova rotina do lar começarão a surgir.


Considerações finais

A carga mental, embora invisível, pode ser um problema muito real no dia a dia de uma família. Mas isso não é uma lei da natureza, que não pode ser alterada. Ao abordar abertamente o assunto, você pode assumir uma postura propositiva e trabalhar ativamente para construir um relacionamento cada vez mais baseado em uma verdadeira parceria.a

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